terça-feira, 29 de maio de 2007

Para encontrar o Segredo, suba a Montanha mágica

Mais um daqueles fenômenos incompreensíveis em meio a uma sociedade de consumo descontente com sua própria condição – a que não consegue, contraditoriamente, abrir mão – o petardo O segredo (aviso logo que não li o livro mas vi o vídeo baixado pela internet) preconiza algo um tanto óbvio para servir de tábua de salvação e muito equivocado para ajudar alguém a sair do vazio dessa civilização. A mensagem básica é: se você quer, você terá. Bom, à primeira vista salta a obviedade. Se assim não fosse, estaríamos ainda quebrando pedras, não é? Mas aí vem a "lógica" da coisa: é só uma questão de atração. Para isso usa-se o poder da mente.
Bom, aí as coisas começam a ter um tom de deja vu. Isso foi moda nos anos 60, 70 e 80. Volta agora com nova roupagem... Portanto, não é nenhum “segredo”...
O mais incrível é que os produtores do filme e do livro, que já alcança o topo das listas dos mais vendidos, prometem revelar a quem consumir esse precioso produto da indústria cultural, nada menos que o “segredo da vida”! Uau! Milênios atrás disso e já é possível acessá-lo com um clic?!?!? Mas os produtores não se contentam só com isso. Prometem uma nova era para a Humanidade a partir do seu produto altamente vendável. Acho que nem a Igreja Católica se arrogou a tanto quando, em seus primórdios, escolheu os livros que comporiam o Novo Testamento...
Bom, a questão é: para os autores e os 25 professores entrevistados para o livro e o vídeo, tudo se dá no que eles entendem por centro do ser: o ego. Tanto que os desejos estão centrados neles: se quer um carro, atraia-o (recomendo olhar antes para os dois lados da rua antes de fazer o pedido...), se quer paz de espírito atraia-a (como se ela fosse um fator externo!), e por aí vai.
Contra tanto egocentrismo indico um banho de arquétipos da Alma ministrado em imagens poderosas: o filme A montanha mágica, que Alejandro Jodorowski, um chileno que viveu no México e hoje mora em Paris, fez em 1973. O filme é isso: uma enxurrada de imagens que, enfeixadas, mostram o caminho percorrido pela alma até a tridimensionalidade, ou seja, até essa nossa existência “real”. Jodorowski faz o caminho inverso: para ele não se deve buscar a iluminação, mas entender que já somos iluminados ao ter ganhado o direito à vida. No entanto, é preciso entender o caminho da alma até aqui para podermos viver de verdade. Sem essa de atração: temos que espalhar a vida. Ritualisticamente. É esse o cume da montanha sagrada.

Um comentário:

Anônimo disse...

Hoje terminei de assistir este filme. Tentei assistir até o fim, três vezes, mas o sono foi maior.

Hoje assisti inteiro. O conteúdo não é diferente dos livros contidos na prateleira de auto-ajuda.

Um dia um cara pediu para que eu contasse algo inconfessável, não tive dúvida:

"-Já li um exemplar de auto-ajuda."