quinta-feira, 26 de abril de 2007

Pôr-do-sol, esportes radicais e gravatas

Pois é. Al Gore vem aí. Dia 12 de maio, no Ibirapuera. Não, parece que não é aberto ao público. Só para convidados e jornlistas. Convidados do promotor do evento, o banco Itaú. Quando soube disso até achei graça. O Itaú? É, aquele banco que no ano passado lançou uma campanha que dizia que o sol – sim, ele mesmo – havia “roubado” a cor das suas agências só para alegrar o meu fim de tarde. Certamente trazer Al Gore ao Brasil será comprar mais uma briga com o sol...

Aliás, porque os bancos são os primeiros a vestir a fantasia da responsabilidade sócio-ambiental? Todos eles querem mostrar que são “humanos” e “sustentáveis”, apesar de lucrarem com sua taxas exorbitantes. Não estão fazendo o mesmo que a indústria tabagista ao basear sua publicidade nos esportes radicais? Pois é, repito. Descaminhos que teremos de mapear nos próximos dez anos, enquanto o aquecimento global for nos torrando os neurônios.

Em tempo: Imagino que a primeira vítima da moda com o aquecimento global será a gravata, esse trapo de pano inventado por Luís XIV ao apreciar os lenços atados nos pescoços de uns mercenários croatas, cuja estupidez o ser humano jamais notou de fato!

Em tempo 2: Prometo não falar em Al Gore nos próximos posts. Já sobre o aquecimento global, nada prometo.

quarta-feira, 11 de abril de 2007

Sim, é ela mesma.

Sim, voltamos. Ou melhor, reencarnamos. Sim, trouxemos ela junto. Nós, a vaca zen e o smokey life. No que poderia dar isso? A vaca de nariz sutil. Por que? Me explique o segredo do universo e te direi o porquê. Ou porque do por quê. Sutilezas de vacas. Portanto viemos para ecoar Campos de Carvalho: sejamos a vaca de nariz sutil, com suas duas, três sabedorias. E seus cornos: pra fora e acima da manada. Êêêê...

segunda-feira, 9 de abril de 2007

Quanto mais inconveniente, melhor!

O filme de Al Gore, que ganhou os Oscar de melhor documentário e de melhor canção este ano deixa, ao final, uma clara dúvida: qual é a verdade inconveniente? A esta altura do campeonato, todos os que não o assistiram, dirão: o aquecimento global, claro. No entanto, após assistir à palestra de 1h30 do ex-futuro presidente dos Estados Unidos (como ele diz no início do filme, emendando em seguida, após os risos da platéia: “não acho isso engraçado...”) se tem a sensação que a proposta dele é eminentemente política. Ecologista, sim, mas eminentemente política. O que Gore propõe sobretudo é a revisão da maneira de se fazer democracia na América. Aliás, já que ele ia cobrar a descrença dos que riram do seu mote ecológico durante anos, porque não jogar ao fogo(metáfora perigosa aqui...) os principais ícones dessa mesma América, o automóvel e a guerra? Pois ele faz isso. E consegue fazer o que nem duzentos Michael Moore conseguiriam: escarnece de Bush com uma sensatez sem tamanho. Duas cenas são cruciais. A primeira mostra Gore fazendo um resumo da sua vida política desde os tempos de colégio, quando conheceu um professor maluco que cismou de medir a concentração de carbono no ar até aquele momento. Enquanto isso, no seu painel, o gráfico vai apontando a progressão do aquecimento global. Ou seja: enquanto eu acumulava derrotas e descrença generalizada, olha o que acontecia ao planeta. A outra cena é mais contundente ainda. Após explicar o risco de a Groenlândia degelar nos próximos dez anos (dez!), ele mostra o efeito que isso teria no aumento do nível no mar. O susto maior ele mostra de cara: os Países Baixos (Holanda) sendo praticamente encobertos pela água salgada. Depois, mostrando a ilha de Manhattan, revela a água avançando até o Memorial World Trade Center. Não, ele não assinala o local onde ficavam as Torres Gêmeas, mas onde foi erguido o Memorial (onde estiveram um dia as torres), o que hoje representa uma espécie de monumento à vulnerabilidade do Império. Enfim, o que mais surpreende é que o filme não é alarmista como a mídia foi depois do seu sucesso ou depois do relatório da ONU. É, antes de tudo, uma convocatória à democracia para salvar o planeta. Tanto que Gore não pestaneja em dizer ao final que “se conseguimos acabar com o comunismo, como não vamos deter o aquecimento global?”. Mesmo assim é portanto, o projeto político mais bem acabado da geração dos 1960. Em 1990 Bernt Capra assumiu o desafio de filmar o livro O ponto de mutação, de seu irmão Fritjof Capra. Como se trata de um livro teórico, a solução foi colocar as teorias num “triálogo” inusitado: um político em crise existencial (baseado em Gore, amigo de Capra) se retira com um poeta para o castelo de San Michel, na França. Lá, no passeio, dentro da sala de máquinas do relógio da ilha, encontram uma física (Liv Ulmann, maravilhosa) e passam a discutir um novo projeto político. É, sim, o processo de Gore, que agora volta à película em toda a sua explicitude. Nos letreiros finais do filme sobre a palestra de Gore, há diversos “avisos”, do tipo: recomende este filme aos seus amigos, escreva ao seu deputado falando sobre o aquecimento global e, se não der resultado, se candidate. É esta talvez a grande verdade inconveniente. Será que ele vai?